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Contra as frentes de colaboração de classes

O movimento pró-formação de uma tendência socialista operária revolucionária do PT aprofundando as discussões relativas à teoria marxista, nesta oportunidade reformula a sua posição, abandonando a defesa da palavra de ordem de frente única anti-imperialista, por entender que tal palavra de ordem ao invés de propiciar uma efetiva luta anti-imperialista, tática, acaba por levar a uma política estratégica de colaboração de classes com burguesia,  a uma frente popular com a burguesia, capitulando perante esta.

Essa posição que ora adotamos, vimos pela primeira vez ser formulada pela Liga Bolchevique Internacionalista, a LBI, dizendo que a palavra de ordem de frente única anti-imperialista das “Teses do Oriente”, dos quatro primeiros congressos da Internacional Comunista, a III Internacional, foram elaboradas por Bucarin, constituindo em frente popular, ou seja frente de colaboração de classes com a burguesia nacional colonial. Sempre criticamos com veemência essa posição, defendendo a ortodoxia dos quatro primeiros congressos da Internacional Comunista.

Todavia, em razão de discussão com o camarada Sergio Bravo, do Colectivo Revolución Permanente, do Peru (o qual junto com o Groupe Marxiste Internacionaliste da França, o Gruppe Klassenkampf da Áustria, e o Movimento ao Socialismo na Rússia, formam um agrupamento internacional), aprofundamos o estudo da questão, com base na “Revista internacional publicada por el CoReP e el PRS para contrucuccion de uma Internacional obrera revolucionaria”, “debate comunista”, de fevereiro de 2012, assim como da obra de Trotsky, “Stalin, o grande organizador de derrotas”, com subtítulo “A III Internacional depois de Lênin”.

A seguir transcreveremos pontualmente as posições do CoReP e de Trotsky (Nota: fizemos a tradução do espanhol para o português – E. W.):

“Quando Stalin e Bucarin inventam o “socialismo em um só país”, esquecem das recomendações de Lênin e transgridem o contruído nos quatro primeiros congressos da IC, regressam ao menchevismo e se entregam à aliança com o Kuomintang, Trotsky multiplica as advertências contra a submissão à direção nacionalista, defende a saída do Kuomintang e a dissolução da Aliança anti-imperialista e tira as lições essenciais, decisivas, da tragédia da revolução chinesa:

“A revolução chinesa tem um caráter nacional burguês... Qualquer que seja a importância relativa dos elementos “feudais”, não podem ser varridos senão pela via revolucionária, portanto pela luta contra a burguesia e não em aliança com ela. (Leon Trotsky, “Revolução chinesa e das teses de Stalin”, 1927).”

Se estás de acordo com esta lição, que é que resta da “frente única anti-imperialista”?

Toda decisão da IC não era infalível. Os quatro primeiros congressos são insuficientes sobre a democracia no partido, sobre o fascismo, sobre a análise da economia capitalista, sobre as alianças de classe nos países dominados... Os quadros revolucionário tinham a escusa de ter que trata urgentemente dos problemas para ois quais Marx e Engels haviam deixado às vezes sem linha precisa. Vocês deveriam considerar a FUAI, com a vantagem de 80 anos de perspectiva, com um fórmula confusa, anacrônica e perigosa, testemunho de uma etapa passa de nossa história, e sobretudo não como um consigna para hoje.

Como para os textos programáticos de 1930 a 1940 adotados pela 4ª Internacional, a referência do Colectivo aos quatro primeiros congressos da 3ª Internacional vale para sua linha estratégica básica, não para cada frase, e sobretudo não à tática desmentida pela história da FUAI.

“Igualmente formalista é vossa declaração segundo a qual considere inaceitáveis aos estatutos da Liga comunista francesa, que se solidarizam com os quatro primeiros congressos da Internacional comunista. Com toda probabilidade, não há um só camarada francês que pense que todas as decisões dos quatro primeiros congressos são infalíveis e imodificáveis. É uma questão de linha estratégica básica. (Leon Trotsky, ao comitê de redação Prometeo, 1930).

Depois das experiências da IC nos países dominados, a Oposição de Esquerda estende e sistematiza a estratégia da revolução permanente que Trotsky havia concebido para a Russia czarista e que foi inteiramente verificada em 1917. Ainda que o abandono das teses errôneas da IC não seja explícito, por razões fáceis de compreender em uma época em que os estalinistas caluniavam aos leninistas bolcheviques e opunham Lênin a Trotsky, a FUAI já não é citada pela Oposição de Esquerda da IC e fica claro, para quem lê atentamente Trotsky, que ele abandonou. O Grupo Bolchevique desafiou o POR Argentina a encontrar qualquer referência à frente única anti-imperialista nos documentos da 4ª Internacional em vida de Trotsky. Todavia esperamos a resposta.

Uma das contribuições decisivas de Trotsky é que a classe operária deve colocar-se à cabeça de toda revolução, inclusive nos países atrasados, onde é socialmente minoritária.

“Para os países com desenvolvimento burguês retardatário, e em particular para os países coloniais e semicoloniais, a teoria da revolução permanente significa que a solução verdadeira e completa das suas tarefas democráticas e da liberação nacional não pode ser outra que a ditadura do proletariado, que toma a cabeça da nação oprimida, sobretudo de suas massas campesinas...Porém a aliança entre estas duas classes não se realizará mas que numa luta implacável contra a influência da burguesia nacional. (Leon Trotsky, “A Revolução Permanente, 1931”).

A 4ª Internacional preconiza claramente como estratégia a aliança dos trabalhadores assalariados com os trabalhadores independentes e a juventude em formação, sob a hegemonia do proletariado:

Há que distiguir a frente única de ações comuns... A ação comum, em particular uma ação a curto prazo, é uma coisa. Porém a capitulação ante a burguesia, uma “frente única” permanente como a Frente Popular francesa é outra coisa. É completamente diferente...Devemos promover uma “frente única” com as organizações de estudantes e camponeses. (Leon Trotsky, Debates sobre China, 1935).

“Em 1922, a frente única anti-imperialista era um erro; em 1951, era um crime

Porém em 1951, a mesma direção da 4ª Internacional revisa o programa do 3º congresso da CI. Passa em 1952 à liquidação da internacional, com a expulsão da seção francesa, que se havia oposto, antes do 3º congresso, aos seus desvios, e com o apoio do Secretariado Internacional a frações pro estalinistas na seção britânica e na seção americana.

O Secretariado internacional de Pablo-Mandel-Maitan-Frank-Posadas considerou que a burocracia estalinista, ao menos uma fração decisiva desta, era apta a reformar-se e adotar o “trotskismo”, o tornava supérflua a construção de partidos operários revolucionários de tipo bolchevique.

No 3º Congresso da 4ª Internacional, em 1951, seus dirigentes Pablo e Mandel voltam à “frente única anti-imperialista”, quer dizer, à aliança com setores da burguesia nacional, contra a estratégia da revolução permanente que era a base programática explícita da internacional bolchevique-leninista. Como Pablo não pode proceder abertamente nesta etapa, embola frases ortodoxas com a afirmação – vacilante ou dissimulada – de uma orientação que o conduzirá a converter-se no conselheiro do Governo burguês argelino. A manobra é a seguinte:

1.      Pablo chama a alianças momentâneas com os movimentos anti-imperialistas da pequena burguesia, o que com efeito é possível, e inclusive necessário, em alguns casos:

O proletariado e seu partido poderão ver-se obrigados a efetuar alianças momentâneas com tal ou qual movimento da pequena-burguesia para objetivos limitados e precisos de ação comum. (Resolução sobre América Latina, 1951).

2.      Logo apresenta fraudulentamente aos movimentos nacionalistas burgueses (APRA, MNR) como pequeno-burgueses:

O que nos distingue do passado, o que da qualidade a nosso movimento atual e que constitui a prenda mais segura de nossas vitórias futuras, é nossa capacidade crescente de compreender, de apreciar ao movimento das massas tal e como existe...e de pretender encontrar nosso lugar neste movimento...É o caso por exemplo na América Latina onde o movimento das massas anti-imperialista e anticapitalista toma amiúde formas confusas, sob uma direção pequeno-burguesa, como no Peru com o APRA, como na Bolívia com o MNR, e inclusive burguesa como em Brasil com Vargas, como na Argentina com Perón. (Michel Pablo, Informe ao 3º congresso, 1951).

3.    O que permite introduzir a aliança com a burguesia, a Frente Popular contra o que se fundou a 4ª Internacional, sob a etiqueta de “frente único anti-imperialista” mais aceitável para um congresso da 4ª Internacional, só onze anos depois do assassinato de Trotsky.

Na Bolívia, nossa seção... se esforçará por influenciar a ala esquerda do MNR...preconizará uma tática de frente única anti-imperialista até ao conjunto do MNR...(Resolução sobre América Latina, 1951).

Um estudo da obra de Trotsky, “Stalin, o grande organizador de derrotas”, com subtítulo “A III Internacional depois de Lênin”, confirma dá razão ao CoReP, conforme alguns trechos a seguir:

“De que “acordos provisórios” se fala neste caso? Em política, ao igual que na natureza, tudo é “provisório”. (...) A única “condição” de qualquer acordo com a burguesia, acordo separado, prático, limitado a medidas definidas e adaptado a cada caso, consiste em não misturar as organizações e as bandeiras, nem direta nem indiretamente, nem por um dia nem por uma hora, em distinguir o roxo do azul, e não crer jamais  que a burguesia seja capaz de levar a cabo uma luta real contra o imperialismo e de não constituir um obstáculo para os operários e camponeses e que esteja disposta fazê-lo.(...)” Desde há muito tempo tenho dito que os acordos estritamente práticos, que não nos comprometem de nenhuma forma e não nos criam nenhuma obrigação política, podem, se isto é vantajoso, em um determinado momento, ser levados a cabo inclusive com o diabo. Porém, seria absurdo exigir ao mesmo tempo que nesta ocasião o diabo se converta totalmente ao cristianismo, e que utilize seus cornos em favor das obras pias em vez de fazê-lo contra os operários e os camponeses. Ao colocarmos tais condições atuaríamos, no fundo, como se fôssemos os advogados do diabo, e solicitaríamos dele que nos permitisse ser seus patronos.”

(...)

Conforme o pensamento de Bucarin, verdadeiro autor do projeto, se emite precisamente uma apreciação geral da burguesia colonial, cuja atitude para combater e para não “constituir um obstáculo” deve ser provada não por seu próprio juramento, senão por um esquema estritamente “sociológico”, quer dizer o esquema mil e um adaptado estritamente a esta obra oportunista.

Para que a demonstração seja clara, citaremos o juízo emitido por Bucarin sobre a burguesia nacional. Depois de uma referência ao “fundo anti-imperialista” das revoluções coloniais e a Lênin (que está totalmente fora de lugar), Bucarin declara:

“A burguesia liberal tem representado na China, durante toda uma série de anos, e não meses, um papel objetivamente revolucionário e depois se esgotou. Não se tratou de nenhuma forma de uma “gloriosa jornada” comparável à revolução russa de 1905.”

(...)

Apresentar as coisas como se o jugo colonial assinasse necessariamente um caráter revolucionário à burguesia nacional, é reproduzir à inversa o erro fundamental do menchevismo, que cria que a natureza revolucionária da burguesia russa se devia deduzir-se necessariamente da opressão absolutista e feudal.”

Assim, com esta autocrítica o movimento pró-formação de uma tendência socialista operária revolucionária do PT evolui no sentido de superar o pablismo, sejam as variantes sul-americanas, lorismo e altamirismo, como as europeias, como lambertismo e healysmo.

Todavia, não se apagam todas as divergências com relação à LBI, uma vez que esta segue uma política de seguidismo ao PSTU morenista, tanto no movimento sindical, com a política divisionista da CST-Conlutas, quanto ao não enxergar o golpe de direita e do imperialismo em marcha e nem se colocar contra o mesmo.

Por outro lado, a TSO tem se aproximado das posições do CoReP, aprofundando os estudos com relação à China e a Rússia como países imperialistas. Esses ex-estados operários, com a restauração capitalista, devem ter se transformado em países imperialistas. A China com Hong-kong e sendo a segunda potência econômica do mundo, tendo ultrapassado o Japão, realmente deve ser hoje uma potência imperialista. Com relação à Rússia, segundo Sergio Bravo, do Colectivo Revolución Permanente, do Peru, Lênin desde 1917 considerava a Rússia imperialista. O CoReP defende uma Internacional Operária, sem defender a reconstrução da IV Internacional por considerá-la destruída há mais de 60 anos.

Erwin Wolf
(Nota de correção: 1) A seção Peruana denomina-se Revolución Permanente, enquanto o agrupamento internacional é Colectivo Revolución Permanente; 2) A organização Movimento ao Socialismo da Rússia, encontra-se em processo de incorporação; e 3) O Colectivo Revolución Permanente defende uma Internacional Operária e Revolucionária ou Internacional Comunista - E.W.).

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