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O Socialismo e as Igrejas – Parte I

O Socialismo e as Igrejas é uma obra da revolucionária polaca-alemã Rosa Luxemburgo, que, na sua época, era o maior nome da luta contra a capitulação da II Internacional ao imperialismo (quando esta votou os créditos de guerra para os seus respectivos países imperialistas) e pela construção da III Internacional, a Internacional Comunista, juntamente com Cristian Racovski, búlgaro, que posteriormente foi presidente da República Socialista Soviética da Ucrânia.

Pela riqueza do poder de argumentação de Rosa Luxemburgo, torna muito difícil fazer um resumo de seu pensamento, por isso optamos por reproduzir com calma, em várias partes, alguns trechos que julgamos significativos dessa obra, hoje oportuna e atual, neste momento em que a bancada “evangélica” tem desenvolvido uma atuação preconceituosa, reacionária, golpista e defendendo ataques aos direitos dos trabalhadores como a terceirização e as MPs 664 e 665 (redução do seguro-desemprego, pensões, etc.).

“(...) Mas nunca os social-democratas instigam os trabalhadores contra o clero, nem interferem em suas crenças religiosas; de modo algum! Os social-democratas (os marxistas - E.W.) do mundo e do nosso país consideram que a consciência e as opiniões pessoais são sagradas. Cada homem pode manter a fé e as ideias que crê serem fonte de felicidade. Ninguém tem o direito de perseguir ou atacar os demais por suas opiniões religiosas. Isto é o que os socialistas pensam. E é por esta razão, entre outras, que os socialistas clamam ao povo que lute contra o regime clarista, que viola continuamente a consciência dos homens ao perseguir católicos, católicos russos, judeus, hereges e pensadores independentes. São precisamente os social-democratas que mais defendem a liberdade de consciência. Portanto, pareceria que o clero deveria prestar ajuda aos social-democratas, que tratam de esclarecer o povo trabalhador. Quanto mais compreendemos os ensinamentos que os socialistas oferecem à classe operária, menos compreendemos o ódio do clero para com os socialistas.

Os social-democratas propõem-se a pôr fim à exploração dos trabalhadores pelos ricos. Pensar-se-ia que os servidores da Igreja seriam os primeiros a facilitar esta tarefa para os social-democratas. Por acaso Jesus Cristo (cujos servidores são os padres) não ensinou que “é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus”? Os social-democratas cuidam para que se estabeleça em todos os países um regime social baseado na igualdade, liberdade e fraternidade de todos os cidadãos. Se o clero realmente deseja pôr em prática o princípio, “ama teu próximo como a ti mesmo”, por que não recebe com satisfação a propaganda social-democrata? Através de sua luta desesperada e da educação e organização do povo, os social-democratas agem para tirá-los de sua opressão e oferecer aos seus filhos um futuro melhor. A esta altura todos teriam que admitir que o clero deveria abençoar aos social-democratas. Por acaso Jesus Cristo, a quem eles servem, não disse “o que fazeis pelos pobres é a mim que o fazeis”?

Por um lado, vemos o clero excomungar e perseguir os social-democratas e, por outro, mandar que os trabalhadores sofram pacientemente, isto é, permitam pacientemente que os capitalistas os explorem. 

(...)

A flagrante contradição entre as ações do clero e os ensinamentos do cristianismo deve levar-nos todos a refletir. Os trabalhadores perguntam-se de como na luta da sua classe pela emancipação, encontram nos servidores da Igreja inimigos e não aliados. Como é que a Igreja defende a riqueza e exploração sangrenta, em vez  de ser o refúgio dos explorados? Para entender este estranho fenômeno, basta lançar os olhos sobre a história da Igreja e examinar a evolução pela qual ela passou ao longo dos séculos.”

Muito bom, né? Mas tem mais. Porém, fica para os próximos capítulos.

Erwin Wolf

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