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Marxismo contra stalinismo

A Liga Comunista, que criticamos em maio deste ano por seu sectarismo, na sua curta existência tem vivido crises seguidas, sendo que agora sofreu um enorme retrocesso no curto período seguinte, ou seja, de maio até outubro, abortando todas suas perspectivas com o rompimento dos grupos que integravam a Frente Comunista dos Trabalhadores (FCT), esvaziando a mesma, fazendo com que a LC fique isolada, o que vai acelerar o seu processo de transformação numa seita stalinista, como a sua matriz, a LBI.

Na atual crise, a LC frenética e desesperadamente passou a escrever sobre centralismo democrático e publicar sobre anarquismo, talvez apenas para despistar e enganar os incautos, ingênuos e crentes, ou talvez mais para consumo interno e/ou para convencimento de sua própria liderança, mas não enxerga a sua prática stalinista. O real e concreto centralismo democrático para a LC é que nem corda na casa de enforcado, como diz o provérbio português.

Assim, a única evolução da LC foi passar da prática sectária à stalinista, conforme podemos constatar da experiência relatada pelo Espaço Marxista:

“Desde que nasceu em fevereiro de 2015, o blog "Espaço Marxista" ligou-se ao chamado "comitê paritário", que envolvia grupos e militantes diversos, em pé de igualdade -daí o nome- para uma militância em comum, principalmente diante do inflamado cenário golpista que se seguiu à vitória de Dilma Rousseff no 2º turno das eleições presidenciais de 2014. Posteriormente, tal comitê adotou o nome de Frente Comunista dos Trabalhadores (FCT), em um processo que culminou com a realização de seu primeiro congresso, em 06/ 09/ 15, com a transformação da FCT em organização nos moldes leninistas, com voto favorável do "Espaço Marxista", que foi delegado congressual.

Todavia, em pouco tempo ficou claro para nós que a novel organização nascia com vícios burocráticos, com um de seus grupos fundadores tentando centralizar o conjunto da militância com base em suas próprias resoluções, que em momento algum foram discutidas nos marcos da nova organização; não bastasse, era usado o método stalinista clássico das ofensas e de tentativas de "ganhar no grito", inclusive com pressão "extraoficial" junto aos militantes para que se alinhassem conforme a posição do dirigente de tal grupo.”
Por outro lado,  o Coletivo Lênin, recusou esse centralismo burocrático da Liga Comunista descrito acima pelo Espaço Marxista, adotando o conselho de Vladimir Lênin, em “Que  Fazer?”, de antes de unir, discutir as divergências, conforme documento para o Congresso da FCT:

“Escrevemos este documento para tentar sintetizar nossas principais posições e propostas acerca das discussões que tomarão parte no congresso da FCT, neste domingo.

Em nosso documento, escrito há alguns meses e postado no grupo da FCT, explicitamos algumas de nossas principais divergências com o dito “programa” da frente, além disso, fizemos propostas visando um funcionamento mais democrático e saudável dos espaços e ferramentas da FCT. Listamos abaixo um breve apontamento dessas questões:(...).”

A LC pode editar todas as obras completas de Marx, Engels, Lênin, Trotsky e Rosa Luxemburgo e gastar toda a tinta do mundo que não vai adiantar nada, enquanto não fizer uma autocrítica de seus métodos stalinistas, não romper com o centralismo burocrático.

“A democracia operária significa liberdade de expressão para todos os membros do Partido sobre as questões importantes da vida deste, sua livre discussão e a eleição do pessoal dirigente responsável, desde a cúpula até a base.” (Plataforma da Oposição de Esquerda russa).

“O regime interno da IV Internacional está determinado pelos princípios e práticas do centralismo democrático, quer dizer, da mais ampla e grande democracia possível na discussão interna para a elaboração de uma linha política e à mais firme disciplina na aplicação dessa linha, uma vez que foi estabelecida... Eleição de todos os organismos superiores pela assembleia, conferência e congresso...Uma disciplina obediente das minorias e respeito das decisões emanadas pelas maiorias” (Programa da IV Internacional).

A LC, nessa autocrítica, precisa chegar a uma clara compreensão teórica, buscando as raízes dos erros cometidos, aprofundando até chegar nas motivações de classe, utilizando o método do materialismo histórico e dialético, o marxismo científico, tendo em vista o programa e as classes sociais em luta, para chegar a uma crítica mais severa, nos marcos de uma discussão coletiva, com os militantes colocando de forma clara suas próprias ideias. Caso contrário vai se consolidar como mais uma seita stalinista.

Erwin Wolf

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