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O Brasil, os imperialismos e a guerra na Ucrânia

O presente texto é uma resposta à contribuição do simpatizante de nossa tendência, Leonardo Silva, para a I Conferência da Tendência Marxista-Leninista. Abordaremos alguns aspectos da conjuntura nacional e da internacional, sobretudo os relativos ao governo Lula e guerra na Ucrânia.

Leia mais:Contribuição do camarada Leonardo SilvaRevolução Russa completa 105 anos

O governo Lula
Como havíamos previsto desde as eleições, o governo Lula é um governo democratizante de conciliação e colaboração de classes, apoiado por uma frente ampla burguesa, ou seja, uma frente popular, uma frente populista. Além disso, previmos que a política econômica do governo Lula daria continuidade à política econômica de Paulo Guedes, ou seja, à política de Bolsonaro. Como prova disse, basta ver o salário-mínimo de fome anunciado pelo governo Lula: R$ 1.320,00.

Os marxistas revolucionários não apoiam governo desse tipo, seguindo o exemplo dos bolcheviques que não apoiaram o governo de Kerenski, que era um governo que surgiu de uma revolução, mas era um governo menchevique de colaboração de classes. Muito pior seria se apoiássemos o governo Lula.

A nossa tendência surgiu no PT que, junto com o PCB, foram tentativas da classe operária de construir um partido operário revolucionário. Todavia, embora tenham sido progressivos à época de sua fundação, tanto o PCB como o PT, não conseguiram se constituir enquanto partido operário independente.

Mantivemos por longo tempo uma atuação no PT, principalmente devido a sua inegável inserção no movimento de massas. Porém, o partido com sua política de conciliação de classes não tem mais perspectivas de defender os interesses históricos da classe operária, motivo pelo qual nos afastamos de suas fileiras.

O PT é incapaz de romper com a política mão de ferro da burguesia, do capital financeiro, de controle total da economia por meio da suposta independência do Banco Central. Isto é a maior falácia da burguesia, uma vez que o Banco Central é controlado diretamente pelo capital financeiro, sendo seu presidente apenas um agente da burguesia e do imperialismo, sendo suas decisões não técnicas, mas essencialmente políticas. O Banco Central brasileiro é independente apenas de seu povo.

O camarada Leonardo, apesar de sua desilusão com o PT, faz uma separação artificial entre o PT e Lula, como se Lula não fosse responsável, juntamente com a direção do PT, pela linha reformista do partido.

Na verdade, o camarada Leonardo possui uma posição semelhante ao Partido da Causa Operária (PCO) que praticamente é uma “tendência externa do PT”, apesar de toda a verborragia “revolucionária”.

A guerra
O camarada Leonardo defende o alinhamento com a Rússia e China imperialistas, ao defender a política dos Brics. A suposição é que Rússia e China não são imperialistas, isto é, no fundo, essa política é de defensa do imperialismo mais “democrático”, o que também é um enorme engano, porque tanto o governo de Vladimir Putin como o governo Xi Jinping são profundamente imperialistas e reacionários.

Rússia e China são países imperialistas. A Rússia antes da Revolução Russa era um país imperialista, embora fosse o elo mais fraco da corrente imperialista. Com a restauração capitalista, a partir de 1992, embora inicialmente o capital financeiro estrangeiro tenha tido uma maior presença na economia, com o passar do tempo o capital financeiro russo passou a ser preponderante, inclusive retornando via outros países europeus, como, por exemplo, a Holanda. Com a restauração capitalista, a Rússia aproveitou-se da liberação das forças produtivas, durante a ex-URSS, com a preponderância da lei da economia planificada socialista sobre a lei do valor capitalista.  Cumpre destacar, também, que a Rússia detém o maior número de ogivas nucleares no mundo: 4.477.

Além disso, cumpre assinalar que o próprio Banco dos Brics é reflexo dos imperialismos russo e chinês, mesmo que eles sejam os elos mais fracos da cadeia imperialista.

Outra coisa, o artigo do camarada Leonardo, dá a entender que não há como o imperialismo americano ser ultrapassado na época imperialista.  Essa posição é bastante semelhante à posição de Kautsky, a do superimperialismo, ou seja, que não há possibilidade de concorrência na fase imperialista.

A história demonstrou que na época imperialista há essa possibilidade de concorrência e de um imperialismo ultrapassar o outro, como aconteceu com o imperialismo norte-americano ultrapassando o britânico.

A época imperialista é a da reação em toda linha, de guerras e revoluções, de extrema concorrência. É só olhar o mundo e vemos que ele está conflagrado, seja na Europa, Ucrânia, no Oriente Médio, Palestina, Síria, na Ásia, China, Índia, Paquistão, na África, etc.

Outra característica fundamental do imperialismo, além da exportação de capitais, como assinalou Lênin, entendemos que há outra também importante: o poderio militar. Os EUA possuem 3.708 ogivas nucleares; Rússia 4.477; China 350; França 290; e Grã-Bretanha 180 (dados da CNN Brasil, de 13/06/22, em seu Portal na Internet).

Os EUA, a Rússia, China e demais países fomentam as guerras em todas as partes do mundo para beneficiar seus complexos industriais militares. Inclusive, na Ucrânia, estão vendendo armas e guerreando, embora não mandando mais soldados, com medo de suas respectivas populações e de suas classes operárias, que não mais admitem que seus filhos sejam levados a morrer na guerra para defender os interesses do capital financeiro.

O Brasil tenta se posicionar entre os imperialismos, ora acenando para os EUA, ora para a Rússia e China. A China porque é o nosso maior parceiro comercial. A Rússia por causa do agronegócio. Todavia, tende a se alinhar com os Brics, inclusive presidindo o seu Banco, através de Dilma Rousseff.

A política externa brasileira, de bajular, ora um imperialismo, ora outro, é fruto da política de conciliação e colaboração de classes do PT.

A política internacionalista e revolucionária condena o imperialismo russo pela agressão à Ucrânia, assim como combate os demais imperialismos, seja norte-americano, seja europeu, seja chinês etc. Os revolucionários defendem o derrotismo revolucionário, a derrota do imperialismo russo e norte-americano na guerra da Ucrânia, bem como o direito à autodeterminação desta.

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