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II Encontro Internacional Leon Trótski

Transcrevemos abaixo a Comunicação “Os imperialismos”, aprovada e apresentada pelo camarada João Batista Aragão Neto, membro de nossa tendência, no Simpósio Temático 4 – Posições sobre a guerra na Ucrânia e o imperialismo hoje, do II Encontro Leon Trótski, realizado em São Paulo, no Brasil,  na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC) e na Universidade Estadual de São Paulo (UNESP), de 21 a 25 de agosto de 2023, dando continuidade ao I Encontro, realizado em Havana, Cuba, em 2019, em comemoração aos 100 anos da Internacional Comunista, onde também o camarada esteve presente.

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O III Encontro está previsto para o ano que vem na Argentina.


Fornecemos, mediante contribuição solidária, o Livro com as comunicações do I Encontro, em Cuba, em 2019, e o do Encontro on-line (por causa da Pandemia do Covid-19), em 2021.

Exposição
“A nossa Comunicação é relativa aos imperialismos e vai abordar a questão da guerra na Ucrânia.

Com relação a essa guerra entendemos que ela é uma guerra imperialista, tanto do lado da OTAN, que apoia o Zelensky, presidente da Ucrânia, como do lado da Rússia, pois temos o entendimento que esta é um país imperialista, ainda mais depois da experiência soviética, com a liberação das forças produtivas, tendo um desenvolvimento (econômico vertiginoso), conforme os ensinamentos de (Eugênio) Preobrajensky (o maior economista soviético, que demonstrou o conflito da Lei do valor capitalista com a Lei da economia planificada, na sociedade de transição ao socialismo, em sua obra “A Nova Econômica”).

Com a restauração capitalista a partir de 1991, a Rússia (obteve apoio financeiro dos países imperialistas que aportaram capitais e) foi se fortalecendo, pois se num primeiro momento houve essa participação dos capitais estrangeiros, aos poucos os capitais russos (que fugiram do país em razão do regime soviético e foram aplicados e exportados ao estrangeiro) voltaram (foram repatriados) e passaram a preponderar.

Embora a Rússia, não tenha o poderio dos países imperialistas mais tradicionais (até 1917 ela era um país imperialista, ou seja, era o elo mais fraco da cadeia imperialista), como Estados Unidos, Inglaterra e França, aos poucos ela vai se constituindo (novamente) em um país imperialista (mesmo ainda permanecendo algumas conquistas da Revolução Socialista) e vai adotando medidas contrarrevolucionárias, como essa invasão da Ucrânia.

Entendemos que Putin em nenhum momento dever ser apoiado (uma vez que ele é um líder de um país imperialista).

(Entendemos que não se aplica à Rússia de hoje) a lição dos bolcheviques que derrotaram Kornilov, sem apoiar Kerensky. Essa é uma experiência que a gente (sempre) pensa.

A nossa posição (com relação a guerra da Ucrânia) é pelo derrotismo de ambos os imperialismos, tanto do ocidental como do russo.

Nós (seguimos) a lição da entrevista (de Trotsky) para Mateo Fossa, de que a classe operária deve lutar por sua independência, como ele apontou no caso de uma invasão da Inglaterra no Brasil, que ficaria do lado do Brasil, mas sem apoiar Vargas. Trotsky sublinha ao final (da entrevista) que a classe operária sempre deve lutar por uma política independente.

Então, a nossa posição é pela derrota de ambos os imperialismos, tanto o da OTAN como do imperialismo russo.

Outra coisa: os capitais russos voltaram  via Holanda e outros países, embora a Rússia não tenha a força das potências imperialistas ocidentais, ela vai (se desenvolvendo) junto com a própria China (como um dos resultados desse II Encontro, estamos estudando a questão da China e estamos tendendo a mudar a nossa posição, adotando o posicionamento do grupo Reagrupamento Revolucionário, que considera o Estado chinês, um Estado operário burocratizado, onde a contrarrevolução, apesar de estar num estágio avançado, ainda não saiu vitoriosa. Os camaradas do Reagrupamento Revolucionário elencam “importantes elementos de transição ao socialismo que permanecem na economia chinesa e têm impactos na sociedade e na política. A vitória de uma contrarrevolução jogaria quase a totalidade  da economia estatal nas mãos da burguesia nativa ou imperialista, piorando drasticamente  as condições de vida das centenas de milhões  de trabalhadores empregados no setor público, que são largamente superiores às condições dos empregados do setor privado.” Ícaro Kaleb, abril de 2020, “Uma análise do caráter de classe do Estado, da economia e das lutas dos trabalhadores”, “Desmistificando a China”. “O que é e para onde vai a China, Reagrupamento Revolucionário – Livreto – Segundo semestre de 2021”).

Entendemos que além da questões que caracterizam o imperialismo, como a exportação de capitais, monopólios, concorrência, reação em toda linha, época de guerras e revoluções, etc., temos de ter claro também o poderio bélico, no caso da Rússia, que é uma potência que tem até mais ogivas nucleares do que os Estados Unidos.

Entendemos que esse tipo de posicionamento  deve ser (semelhante, mas não igual, aos casos)  de  Saddam, Assad e Kadafi, (porque nesses casos tratam-se de países semicoloniais e não imperialistas). Fomos contra a invasão do Iraque (e da Líbia e aos ataques) à Síria, sem dar apoio à (Saddam Hussein), Assad ou Kadafi; esse é que deve ser o posicionamento marxista.

O desenvolvimento do imperialismo russo ou chinês demonstrou o acerto da teoria de Lênin em relação ao imperialismo, ou seja, a reação em toda linha, época de guerras e revoluções, ao contrário do posicionamento de Kautsky que tinha aquela visão, como o colega (Fábio Bosco) havia falado anteriormente, do super-imperialismo. Somente a concepção leninista dá para a gente entender a superação de um imperialismo por outro, porque na história já foi provada (essa hipótese) a superação do imperialismo britânico pelos Estados Unidos.

As pessoas podem pensar que o imperialismo norte-americano vai preponderar eternamente, um super-imperialismo, a posição de Kautsky. (Todavia)  A gente já viu que os Estados Unidos ultrapassaram a Inglaterra, demonstrando que a posição de Lênin é a que está mais de acordo com o marxismo.

Esses são os posicionamentos que a gente vem defendendo. Entendemos que o fundamental nessa guerra imperialista é que os imperialismos russo e ocidental sejam derrotados e que a gente lute pela confraternização dos operários russos e ucranianos, (bem como seja garantido direito à autodeterminação da Ucrânia). Essa é a nossa diretriz.

Debate
“Vou começar pela bandeira da Ucrânia (Fábio Bosco, do PSTU, exibia uma bandeira da Ucrânia) que causou um furor na Internet. Nós aprendemos quando lemos o “Manifesto Comunista” que a classe operária não tem pátria. É estranho a gente ver bandeira nacional, seja de que país for, sendo levantada, porque comunista, como operário, entende que ele não tem pátria.

Mas prosseguindo, eu acho que a questão central a gente não pode estar defendendo nenhum dos lados, seja a OTAN, seja o imperialismo russo. O que a classe operária tem que defender é a derrubada de Zelensky e de Putin, e para isso ela precisa  construir o partido operário revolucionário, tanto na Ucrânia, como na Rússia, essa é a única alternativa, construir sovietes (conselhos operários) para poder ter uma política independente.

Fora isso, a gente vai estar apoiando um ou outro imperialismo e vai estar fazendo que toda essa guerra continue.

É interessante notar que esse posicionamento tem de ser de forma ativa, tem de defender um partido operário revolucionário na Ucrânia e na Rússia; não tem outro caminho; tem de defender essa bandeira; colocar a necessidade da construção de sovietes, porque só assim a gente vai poder, como aconteceu em 1917, superar (a burguesia) e colocar a classe operária no poder.

Sem uma política independente não vai adiantar. Não adianta sermos impressionistas e entender que a classe operária, na Ucrânia, no momento, manifesta uma certa posição, que ela está correta. A classe operária em muitos momentos da história, infelizmente, abandonou as suas bandeiras, como aconteceu na época de Hitler, como aconteceu quando foi derrubado o regime comunista na Rússia (em 1991), não conseguindo manter as suas conquistas.

A classe operária está sem liderança, sem direção (revolucionária).

Isso vem comprovar mais uma vez que o programa da IV Internacional continua em vigor, continua vivo, mais do que nunca. A gente lembra da frase do Trotsky de que o problema da humanidade, é o problema da (se reduz à) crise de direção revolucionária.  É isso que a gente tem (vive).

Se a gente não construir o partido revolucionário, se a gente não construir a Internacional, nós vamos continuar sendo impotentes perante as contendas internacionais, ora apoiando um imperialismo, ora apoiando outro e ora capitulando. O que precisamos ter é um partido operário revolucionário na Rússia e na Ucrânia e uma Internacional operária e revolucionária.

*Obs: fizemos diversas notas entre parêntesis para aclarar o entendimento da Comunicação, suprindo deficiências em razão da improvisação na fala.

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