Pular para o conteúdo principal

Do levante de 7 de setembro ao fracasso do dia 12: a burguesia abandonando a 3ª via

© imagem: André Dahmer | por Leonardo Silva*

O bolsonarismo levantou a cabeça no dia 7 de setembro depois de um período de defensiva que teve seu auge após a segunda onda da pandemia quando vieram à tona as denúncias de um esquema de propinas relacionado à compra de vacinas seguido do crescimento das manifestações da esquerda que retomaram as ruas. Com quase 700 mil mortos representando uma catástrofe histórica e um crime de lesa-humanidade, os fascistas lotaram as ruas principalmente em São Paulo e Brasília, e esse fato desastroso pôs a nu uma série de fatores da situação política.

Leia mais:
O fiasco da terceira via
Apenas a mobilização impedirá novo golpe e derrubará Bolsonaro
A Revolução Permanente na América Latina
Servidores públicos fazem paralisação contra PEC 32
A questão dos desempregados

A primeira delas é a total falência das ditas "instituições democráticas" e as deficiências da maior parte das direções da esquerda que à reboque destas instituições fizeram refluir os movimentos de rua. O segundo fator está na tentativa de "domesticação" dos fascistas pelo judiciário golpista no STF representado pelo tucano Alexandre de Morais, que passando sistematicamente por cima da lei, efetuou prisões de elementos bolsonaristas do terceiro escalão com base em conteúdos 

de internet instigando com métodos golpistas a fúria igualmente golpista dos cachorros loucos que representam a base social do presidente da república.  O STF tem especial responsabilidade pelo levante bolsonarista pelo fato de seguirem a mesma cartilha do golpe de 2016, quando articulados com a imprensa golpista perseguiam o PT passando por cima de todo processo legal para o delírio da "opinião pública" da mesma classe média hoje na base bolsonarista.

No jogo agora invertido, estão na plateia da "torcida" a classe média de esquerda que enchem as páginas de correntes em favor do golpista Alexandre de Morais de maneira totalmente histérica e acrítica. Sem qualquer compromisso com constitucionalidade das próprias instituições burguesas que representam o estado não é possível imaginar que os bolsonaristas que são produto do golpe e que nunca foram minimamente democráticos obedeçam a qualquer ordem legal.

O desastre manifestado no dia 7 foi seguido de uma profunda desorientação dentro da esquerda que num sinal de absoluto delírio emocional coletivo, depois de espalhar o medo para desmobilizar os movimentos sociais no dia 7, deu os atos bolsonaristas como "fracassados" tendo por base a avaliação anterior equivocada de que eles estavam indo para um auto-golpe. O desastre só não foi maior porque o vácuo preenchido pelos bolsonaristas teve resposta em contra-atos bastante expressivos das organizações populares na rua, principalmente em São Paulo, desafiando todos os obstáculos impostos pelo governo Dória que entregou a Av. Paulista para os fascistas.

Logo depois a mobilização da direita golpista tradicional em aliança com fascistas bolsonaristas dissidentes do MBL que buscam a "3ª via" fracassou de uma maneira ridícula e vergonhosa mostrando que a única força real de oposição ao bolsonarismo, e que as próprias direções da esquerda ignoram ao buscar aliança com golpistas, são os movimentos sociais e as bandeiras pela candidatura de Lula.

Tudo isso mostra que o dia 7 e o dia 12 estão interligados na situação política pelo simples motivo de que não foram só setores tipicamente bolsonaristas da burguesia do baixo clero que financiaram as mobilizações fascistas.

A reorientação de amplos setores da burguesia se inclinando de volta ao bolsonarismo se mostra pelo motivo de que eles teriam perfeitamente condições de organizar atos artificiais, com movimentos alugados, campanhas empresariais e ONGs de faixada e movimentos indenitários tudo com apoio do imperialismo para promover um evento pró 3ª maior do que o que foi feito. A questão é por quê não fizeram?  O cálculo é simples, não há 3ª via e o dia 12 foi o termômetro que mediu terminantemente a questão.

A um ano das eleições, já não está mais sendo viável para a própria imprensa capitalista esconder a operação de reagrupamento em torno de Bolsonaro para o combate efetivo a Lula. Isso fica escancarado no ataque ao jornalista do orgão de imprensa alternativa "Brasil 247" Joaquim de Carvalho por setores da própria imprensa dita "democrática" e especialmente da imprensa golpista como a Folha de S. Paulo após a publicação do documentário “Bolsonaro e Adélio – Uma fakeada no coração do Brasil”.

O documentário teve ampla repercussão levantando questões que demonstram a fragilidade do suposto atentado que beneficiou grandemente Bolsonaro em 2018 e isso para os golpistas pode colocar abaixo o seu principal "plano B" contra Lula; Bolsonaro.

Todos esses elementos tem que ficar bastante claro para aqueles que lutam pela derrubada do governo Bolsoanro, para neutralizar a insistente política de alianças com setores golpistas da direita que só tem um intuito; Sabotar um movimento pró-Lula e, não mais eleger a inviável 3ª via, mas salvar Bolsonaro. Essa política persiste, tem desmantelado os movimentos populares e é preciso ser rejeitada com palavras de ordem intransigentes: Fora golpistas dos atos da esquerda! Fora Bolsonaro, Lula presidente!

Goiânia, 17/09/2021.

Leonardo Silva é professor.

Este espaço é aberto à manifestação democrática do movimento operário e popular.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Eleições violentas e antidemocráticas

As eleições para prefeitos e vereadores que ocorrem no Brasil seguem sendo violentas e antidemocráticas. Quase diariamente, a imprensa noticia assassinatos de candidatos em várias cidades do País. Nos debates, acontecem cadeirada entre candidatos e brigas de soco entre os assessores. O pleito, além disso, é antidemocrático, com os partidos da burguesia tendo o monopólio do tempo de propaganda eleitoral nos meios de comunicação, como rádio e TV, prevalecendo o poder econômico desses partidos. Leia mais: Tentativa de golpe na Bolívia e a lição do proletariado Liberdade para Julian Asssange! Cresce revolta estudantil pró-Palestina nos EUA e na França Há 100 anos perdemos Lênin, o grande teórico do partido operário revolucionário Lula e PT num beco sem saída Infelizmente, a classe trabalhadora não conseguiu forjar uma alternativa revolucionária, após o fracasso do Partido Comunista e do Partido dos Trabalhadores, em razão da política de colaboração e conciliação de classes. Portanto, mais ...

Tentativa de golpe na Bolívia e a lição do proletariado

O proletariado boliviano saiu às ruas contra o golpe militar, liderado pelo General Zúñiga para derrubar o presidente Luis Arce. A mobilização do povo boliviano frustrou a tentativa de golpe, fazendo com que o General e o Exército recuassem. As informações que nos chegaram dão conta de que houve confrontos de populares com os militares golpistas, que ocuparam a praça próxima ao palácio do governo. Por outro lado, o Partido Obrero Revolucionário da Bolívia, o POR, soltou uma nota onde denuncia que a tentativa de golpe foi uma farsa tramada pelo próprio presidente Luis Arce, dizendo que o General golpista, ao ser preso, declarou que o próprio Arce  lhe pediu para que montasse essa farsa de golpe. Leia mais: Liberdade para Julian Asssange! Cresce revolta estudantil pró-Palestina nos EUA e na França Há 100 anos perdemos Lênin, o grande teórico do partido operário revolucionário Lula e PT num beco sem saída Diretor da ONU renuncia denunciando genocídio em Gaza Independentemente do que r...

Cresce revolta estudantil pró-Palestina nos EUA e na França

© foto: Caitlin Ochs (REUTERS) Os estudantes americanos promoveram uma revolta pró-Palestina contra o enclave sionista, terrorista e genocida de Israel. Aproximadamente 50 universidades tiveram manifestações convocadas por organizações pró-Palestina. De uma ponta a outra dos Estados Unidos, ou seja, da Califórnia ao Maine, de Minnesota ao Texas, os estudantes reivindicavam um imediato cessar-fogo e o fim do conflito, além de exigir que o governo americano pare de financiar Israel com bilhões de dólares. Leia mais: Há 100 anos perdemos Lênin, o grande teórico do partido operário revolucionário Lula e PT num beco sem saída Diretor da ONU renuncia denunciando genocídio em Gaza Todo apoio à luta pela libertação da Palestina! II Encontro Internacional Leon Trótski Os Estados Unidos estão reprimindo fortemente a revolta estudantil, com mais de 400 detidos pelo país. Apenas na Universidade Northeastern, em Boston, foram presos 100 estudantes, assim como houve também repressão na Universidade ...