A Revolução Russa completa 104 anos e segue sendo um farol para a classe trabalhadora do mundo inteiro na luta pelo socialismo, pois foi a primeira vitória com a expropriação da burguesia, mantendo de pé um Estado operário por mais de 70 anos (embora tenha sido a segunda tentativa, depois da Comuna de Paris de 1871).
A Tendência Marxista-Leninista (TML) comemora, em 7 de novembro, conforme o calendário ocidental, os 104 anos da Revolução Russa de 1917 (pelo antigo calendário juliano, a Revolução Russa ocorreu dia 25 de outubro). Após a Revolução de Fevereiro de 1917, que havia derrubado o czarismo, assumiu o poder um governo um governo conciliacionista, tipo frente populista, frente popular, que acabou dando o poder ao advogado Alexandre Kerenski.
O proletariado minoritário, na ocasião foi incapaz de assumir o poder em aliança com o campesinato, principalmente devido a que o seu partido revolucionário, o Partido Operário Socialdemocrata Russo (fração bolchevique) era bastante minoritário na época.
Em 9 de abril de 1917, Lênin, a esposa e outros camaradas viajaram de trem, retornando à Rússia, viagem essa facilitada pelo governo alemão que tinha interesse que a Rússia se retirasse da guerra, conforme a posição dos bolcheviques.
Foi nessa ocasião em que ele apresentou as famosas “Teses de abril”, elaboradas durante a viagem de volta.
Após a Revolução de Fevereiro de 1917 na Rússia, o Partido Bolchevique viveu uma crise de direção, porque “A marcha real da Revolução de Fevereiro ultrapassou o esquema habitual do bolchevismo.” (Leon Trotsky, “A História da Revolução Russa, 1º vol. “A Queda do Tzarismo”, pág. 271, Editora Paz e Terra, 3ª Edição, 1978), referindo-se a fórmula algébrica de Lênin de “ditadura democrática do proletariado e dos camponeses.” “É verdade que a Revolução tinha sido levada a termo por meio de uma aliança dos operários com os camponeses. O fato de os camponeses agirem principalmente sob a farda dos saldados não alterava, em absoluto, a questão.” (Idem, pág. 271). A fórmula algébrica do Partido Bolchevique não dava resposta para o prosseguimento da política revolucionária. O partido vivia um impasse, uma crise de direção.
Com a chegada de Lênin, no dia 3 de abril de 1917, ele apresentou as suas famosas “Teses de Abril”, as quais faziam uma análise concreta da situação concreta:
“O Proletariado consciente só pode dar seu consentimento a uma guerra revolucionária, que justifique verdadeiramente o defencismo revolucionário, sob estas condições: a) passagem do poder ao proletariado e dos setores mais pobres do campesinato a ele aliados; b) renúncia de fato, e não só de palavra, a qualquer tipo de anexação; c) ruptura de fato com todos os interesses do capital.”
Com isso foi aperfeiçoada a linha programática do Partido Bolchevique:
“A luta pelo rearmamento dos quadros bolchevique, iniciada na tarde de 3 de abril, terminou, praticamente, no fim do mês. A conferência do Partido, realizada em Petrogrado de 24 a 29 de abril, tirava conclusões de março, mês de tergiversações oportunistas, e de abril, mês de crise aguda. O Partido, naquela época, crescera consideravelmente, tanto em quantidade como em valor político. Os 149 delegados representavam 79 mil membros do Partido, dos quais 15.000 de Petrogrado. Para um partido ainda ontem ilegal e hoje antipatriota, era um número imponente, e Lenine menciona-o repetidamente com satisfação.(...)” (Idem, pág. 280).
Resolveu-se, assim, o impasse do Partido Bolchevique e a crise de direção revolucionária que ele viveu.
G. Plekânov, ensinou que:
“A modificação mais ou menos lenta das “condições econômicas” coloca periodicamente a sociedade ante a inelutabilidade de reformar com maior ou menor rapidez suas instituições. Esta reforma jamais se produz “espontâneamente”. Ela exige sempre a intervenção dos homens, diante dos quais surgem, assim, grande problemas sociais. E são chamados de grandes homens precisamente aquêles que, mais que ninguém, contribuem para a solução destes problemas.(...).” (“A Concepção Materialista da História, pág. 111, Editora Paz e Terra, 4ª Edição, 1974).
Segue a conclusão de Trotsky sobre essa crise de direção revolucionária que viveu, após a Revolução Russa de Fevereiro de 1917, o maior partido operário marxista revolucionário da História, o Partido Bolchevique:
“Da importância excepcional que teve a chegada de Lenine, deduz-se apenas que os líderes não se criam por acaso, que a seleção e a educação deles exigem dezenas de anos, que não se pode suplantá-los arbitràriamente; que, excluindo-os automàticamente da luta, causamos ao Partido uma ferida profunda e que, em certos caos, podemos até paralisá-lo por longo tempo.” (“A História da Revolução Russa, 1º vol. “A Queda do Tzarismo”, pág. 281, Editora Paz e Terra, 3ª Edição, 1978).
Os bolcheviques armados das Teses de Abril seguiram em direção ao poder superando todos os osbstáculos que se lhe apresentaram.
Trotsky chegou em maio, vindo de Nova Iorque.
Em julho, ocorreram as famosas jornadas de julho, nas quais o proletariado radicalizou-se e ameaçou tomar o poder de forma precipitada. Os bolcheviques estiveram junto com o proletariado radicalizado, tomando todos os cuidados para que tal radicalização não colocasse tudo a perder.
O General Kornilov, em setembro, tentou dar um golpe para derrubar Kerensky, todavia os bolcheviques fizeram frente única com Kerensky, sem apoiá-lo, e enfrentaram e derrotaram as tropas do general golpista. Trotsky, no início do golpe, foi libertado da prisão de Kresty, tendo participado da luta contra o golpe do General Kornilov.
O acerto da luta programática do partido bolchevique expressa em suas precisas palavras de ordem permitiram o crescimento constante do partido entre as massas operárias e sua aliança com os socialistas revolucionários de esquerda propiciou a ampliação de sua influência junto ao campesinato. O partido cresceu cada vez mais nos sovietes, os conselhos de operários, camponeses e soldados, que foram ganhando poderes legislativos e executivos, constituindo-se como órgão de duplo poder.
Assim, os bolcheviques, com a palavra de ordem “Todo poder aos sovietes”, chegaram ao poder, sendo que Lênin liderou o governo soviético, sendo Presidente do Comissariado do Povo, e Trotsky, inicialmente como comissário do povo para as Relações Exteriores e depois para a Guerra.
Os bolcheviques assinaram o Tratado de Paz de Brest-litovisky, liderados por Trotsky.
Em seguida, Leon Trotsky organizou o Exército Vermelho, para enfrentar 14 exércitos que cercavam e ocupavam a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). O Exército Vermelho saiu vitorioso de na Guerra Civil de 1918/1921 derrotando todos os exércitos contrarrevolucionários.
Em 1919 foi fundada a Internacional Comunista, que depositava bastante esperança na Revolução alemã que, infelizmente, foi derrotada com os assassinatos de Karl Liebknecht e Rosa Luxemburgo.
Para piorar a situação, em janeiro de 1924, Lênin faleceu, num momento que o proletariado russo encontrava-se bastante esgotado, em razão de suas campanhas de lutas desde o início da revolução.
Isso permitiu o surgimento de uma burocracia, no seio do Estado soviético, burocracia essa que passou a lutar por privilégios em detrimento dos interesses históricos do proletariado, ou seja, houve o abandono da luta da Teoria da revolução permanente de Marx (propagandeada e desenvolvida por Trotsky) e do internacionalismo proletário e a adoção da contrarrevolucionária “Teoria do socialismo em um só país”.
A burocracia propiciou a ascensão de Josef Stalin, Gerorg Zinoviev e Lev Kamanev, que ficou conhecida como a “troika” e a burocratização do Estado operário soviético.
Em razão disso, foi formada inicialmente uma oposição baseada num manifesto de 46 bolcheviques, liderado por Eugênio Preobrajenski, o maior economista soviético bolcheviques, contra a burocracia de Stalin. Posteriormente, foi formada a Oposição de Esquerda, liderada por Trotsky e mais tarde a Oposição Conjunta, liderada por Trotsky e Zinoviev, em razão da dissidência deste com relação a Stalin.
A luta no seio do Estado soviético torna-se feroz, com muitos oposicionistas capitulando a Stalin, deixando Trotsky cada vez mais isolado, até que em 1929, Trotsky é expulso para a Ilha de Prínkipo, na Turquia, iniciando o seu último exílio.
No início dos anos 30, a maioria da velha guarda bolchevique que capitulou perante Stalin, foi “julgada” e executada nos famosos “Processos de Moscou”, denunciados pela Oposição de Esquerda, que ainda lutava no interior dos partidos comunistas não só o russo, com o objetivo de impulsionar uma revolução política, como nos demais, dirigidos pela Oposição de Esquerda Internacional.
A partir da conciliação e colaboração de Stalin com Hitler, a posição de Trotsky evolui no sentido da ruptura com os partidos comunistas estalinistas, passando a ter o objetivo de construir uma nova Internacional, a qual realmente acabou fundando em 3 de setembro de 1938, a chamada IV Internacional.
Stalin, em 23 de agosto de 1939, firma o “Tratado de não-agressão com a Alemanha”, o chamado “Pacto Ribbentrop – Molotov”, uma absurda tentativa de coexistência pacífica com o imperialismo alemão.
Em 21 de agosto de 1940, Ramon Mercarder, agente de Stalin, assassina Trotsky, em Coyoacán, no México. Com esse assassinato, Stalin praticamente eliminou toda a velha guarda bolchevique, concluindo grande parte de sua reação termidoriana.
O estalinismo seguiu cada ver mais desnorteado. A ilusão e incapacidade da liderança estalinista era enorme. Mesmo quando Hitler abertamente rompe o “Pacto Ribbentrop-Molotov”, invandindo e avançando pelo território soviético, a chamada Operação Barbarossa, iniciada em 22 de junho de 1941 pelas potências do Eixo, Stalin leva bastante tempo para reagir e acionar o Exército Vermelho para fazer frente aos nazistas invasores.
A Revolução Russa permitiu a luta da Lei da economia planificada do regime de transição socialista contra a Lei do valor do regime capitalista, no seio da sociedade soviética, como nos ensinou Eugênio Preobrajenski, em sua obra magistral “A Nova Econômica”.
As forças produtivas do Estado operário desenvolveram-se de forma gigantesca. Houve enorme desenvolvimento econômico e tecnológico da indústria e da agricultura, da ciência, das artes, da cultura, da educação, dos esportes, etc. A URSS rivalizava com a nação mais rica e poderosa do mundo, os Estados Unidos.
A URSS. a cada dia, necessitava cada vez mais de técnica, tecnologia, ciência, avanços, etc. Como dizia Lênin, em seu tempo, “socialismo é soviete mais eletricidade”.
Todavia, o socialismo não pode desenvolver-se apenas nos marcos nacionais, a sua vocação é internacional. Ele necessita da extensão da revolução para a arena internacional, mundial. Daí o absurdo da “Teoria do socialismo num só país”, que sem dúvida levou à restauração capitalista na URSS, em 1991, ainda que remanesçam algumas conquistas da revolução.
Infelizmente, a URSS, em razão da não extensão da revolução em nível internacional, não conseguiu superar o estágio socialista, em direção ao estágio comunista, o qual pressupõe a abundância, ou seja, a passagem da pré-história em que vivemos, para a uma sociedade onde não haja mais a exploração do homem pelo homem, e a própria classe operária deixe de existir.
Mas como ensinou Marx no 18 do Brumário, a revolução sempre retorna em proporções gigantescas.
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