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Alckmin na chapa, o filé que fortalece o bolsonarismo

*Por Leonardo Silva


No último dia 8 foi protagonizada uma das cenas mais dantescas que eu como militante já presenciei desde o golpe de estado, no fatídico dia da posse de Michel Temer. O encontro da direção do PSB com o PT para a proposta do ex-governador de São Paulo na chapa com Lula, onde políticos burgueses se acotovelavam em torno das câmeras tendo Lula ao centro, como se tivesse eles prontos para assumir seus cargos no novo governo.

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Já era sabido da alta repulsa que o nome de Alckmin tem sobretudo entre os trabalhadores da educação, que sofreram todo o processo de desmantelamento do sistema público de ensino altamente precarizado, fora o escândalo do desvio de verbas destinadas à merenda escolar. Já era sabido que o PSDB apresentando já alto grau de dissolução política devido a sua política neoliberal e seu caráter extremamente antipopular, embarcou de cabeça na direção do Golpe de Estado de 2016 e bateu o último prego no seu caixão tendo seus políticos tradicionais alijados da cena política e em São Paulo o partido confiscado pela extrema-direita doriana.

Muito mais do que repetir o erro do passado de se colocar uma figura profundamente ligada aos capitalistas na sucessão direta da presidência, muito mais do que colocar em risco a própria integridade física do Lula com esse tipo de operação, o PT e a esquerda de modo geral demonstram um profundo deslocamento da realidade e das transformações políticas que se opera não só no Brasil, mas mundialmente. A crise capitalista cuja ação de contensão se figura na política neoliberal, uma política de terra arrasada, destruição das forças produtivas dos países atrasados que submete a população a miséria e fome, tem destruído a maior parte das organizações políticas burguesas tradicionais e todas organizações populares a elas associadas na aplicação dessa mesma política.

O crescimento da extrema-direita sob uma pretensa bandeira antiglobalista simboliza a falta de capacidade das organizações de trabalhadores (ou que se reivindicam assim), de fazer frente à insatisfação popular, diante de sua paralisia e dependência orgânica das instituições em dissolução. Para um cenário político completamente diferente de 2003 quando o PT assume a presidência, ao propor Alckmin como vice a direção não se contenta em apresentar a mesma solução anacrônica, mas também com seu caráter contraditório ainda mais aprofundado.

Isso só pode ter um efeito nefasto na campanha para eleger Lula, visto que é um ataque ao moral da militância mais aguerrida, que se filiou ao partido durante o golpe de estado, que enfrentou a "política de segurança pública" genocida de SP durante todos esses anos de PSDB no governo. A direção do PT está definitivamente disposta a jogar para baixo os ânimos da militância que enfrentou a extrema-direita para lutar contra a prisão e pela liberdade de Lula e submeter o partido à vontade de políticos negocistas burgueses, sem campanha de luta na rua e os setores mais panfletários dessa política só podem ser os que nunca participaram da luta mais difícil, do sacrifício e do risco para suas vidas inclusive, só para galgar alguma posição política em uma possível vitória eleitoral.

Setores com sua histeria típica de classe média prontos a chamar qualquer eleitor do Bolsonaro indiscriminadamente de "Gado", mas que com um estilo que não deve nada ao bolsonarismo tem a pretensão de querer transformar toda a militância em "Gado" diante de todas as políticas das direções da esquerda. O PT aproveitando o interesse dos escombros do PSDB em se reciclar politicamente, para ter apoio a Fernando Haddad, está pondo em risco a própria eleição nacional em prol da eleição estadual de SP, calculo difícil de se justificar.

O resultado já se apresentou na repercussão após o encontro no dia 8, entre o escárnio tradicional do bolsonarismo e muito significativamente também o da imprensa golpista que se foi ao delírio e explorou ao máximo o evento para sua campanha de desmoralização. Não nos surpreendamos que essa aliança vergonhosa não só não trará apoio nenhum da burguesia que não investiu alto custo político em um golpe de estado para ver o PT de volta ao governo, como também vai levar votos para a extrema-direita. A direção nacional do PT não se contentando com as formalidades resolveu partir para um comportamento de um nível que considero pouco respeitoso para com a militância experiente, ao insistir na intimidade absurda do "companheiro Alckmin" perdeu a direção, o norte do que está fazendo.  Lula sim, Alckmin NÃO!


Leonardo Silva é professor.
Goiânia

*Este espaço é aberto à manifestação democrática dos movimentos operário e popular.


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