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Resenha de livro: A História do Trotskismo norte-americano

A HISTÓRIA DO TROTSKISMO NORTE-AMERICANO, de James Patrick Cannon, é um clássico do trotskismo.  Publicado em 2015 pela Editora Sundermann, com 256 páginas.

Cannon foi o precursor do trotskismo nos Estados Unidos. Nascido em 11 de fevereiro de 1890, em Rosedale, no Estado do Kansas, no meio-oeste dos Estados Unidos, tendo falecido 21 de agosto de 1974, na cidade Los Angeles, Califórnia, há exatos 34 anos após a morte de Trotsky, que também faleceu no dia 21 de agosto, em 1940. 

Iniciou sua vida como trabalhador após a morte de sua mãe, com doze anos, numa fábrica de produtos alimentícios e depois foi ferroviário. 

Ingressou no Partido Socialista aos 18 anos e foi ativista sindical do Trabalhadores Industriais do Mundo (Industrial Works of the World). 

Dirigente do Partido Comunista norte-americano (Comumnist Party of the United States/PC), rompeu com a Internacional Comunista na era stalinista, aderindo à Oposição de Esquerda, liderada por Leon Trotsky, no final da década de 20 do Século passado, constituindo a Liga Comunista da América, Oposição de Esquerda do Partido Comunista (Communist League of America, Left Opposition of the Communist Party – CLA). 

Cannon foi um dos principais dirigentes do Socialist Workers Party (SWP) e da IV Internacional. 

Militou de costa a costa, principalmente nas cidades de Nova Iorque, no Estado de Nova Iorque, Chicago, no Estado de Illinois e Los Angeles, no Estado da Califórnia (neste por causa de problemas de saúde), na Federação Americana do Trabalho (American Federation of Labor - AFL), no Congresso de Organizações Industriais (Congresso of Industrial Organizations – CIO), na Defensoria Operária Internacional (International Labor Defense – ILD), na Liga dos Desempregados (Unemployed League), no Sindicato dos Agulheiros (Needletrades Union), no Sindicato dos Caminhoneiros de Minneapolis (Minneapolis Teamsters Union), no Sindicato dos Mineradores Progressistas (Progressive Miners Union ou Progressive Miners of America), no Sindicato Têxtil Unificado (Amalgamated Clothing Workers) e no Trabalhadores Industriais do Mundo (Industrial Workers of World – IWW).

James Cannon foi um dos gigantes do movimento operário norte-americano, ao lado do grande John Reed, jornalista que participou e cobriu a Revolução Russa de 1917 e escreveu outro clássico do comunismo: “Os 10 dias que abalaram o mundo”, tendo sido enterrado no Kremlin.

O livro de Cannon é o resultado de 12 palestras que proferiu na primavera de 1942, onde ele trata a experiência riquíssima da luta pela construção do partido operário marxista revolucionário nos Estados Unidos, experiência essa que produziu o maior partido trotskista da IV Internacional e influenciou as demais seções da mesma.

Jim Cannon conta a sua experiência no Partido Comunista norte-americano, na Internacional Comunista, a ruptura com os stalinistas. Fala do militante número dos trotskistas norte-americanos, o jornal The Militant, assim como da revista Socialist Appeal (Apelo Socialista).

Além disso, explica a experiência de construção do partido trotskista nos Estados Unidos, a fusão com o Partido dos Trabalhadores Norte-Americanos (America Workers´ Party/ AWP), liderado por Abraham Muste. 

E ainda o entrismo no Partido Socialista dos Estados Unidos (Socialist Party of the United States/PS), liderado por Norman Thomas. Essa última experiência foi inspirada no chamado “giro francês”, quando em meados dos anos 30 do Século passado, os trotskistas franceses fizeram entrismo no Partido Socialista francês em razão da sua ala esquerda caminhar para posições revolucionárias. Nos Estados Unidos, no PS aconteceu fato semelhante ao da França. 

Cannon venceu as discussões no Partido dos Trabalhadores Norte-Americano contra o bloco sectário de Muste e Oehler, que diziam que o Partido Socialista era da II Internacional, que havia traído aos trabalhadores na I Guerra Mundial, votando os créditos de guerra em 1914. Porém,  Cannon explicou pacientemente que a ala esquerda do Partido Socialista caminhava para posições revolucionárias e que ela era jovem nos anos 30 do Século passado e nada tinha a ver com a geração da época da I Guerra Mundial.

De certa forma, a HISTÓRIA DO TROTSKISMO NORTE-AMERICANO é a fase inicial do mesmo, porque a experiência do Partido Socialista dos Trabalhadores (Socialist Workers´  Party) não chega a ser abordada porque fazia parte da história recente do trotskismo norte-americano na primavera de 1942. Todavia, essa história deve ser estudada de forma complementar, através do estudo de duas obras fundamentais: Em defesa do marxismo, de Leon Trotsky e a A luta por um partido proletário, do próprio Cannon. Essas obras retratam a luta vitoriosa de Trotsky e Cannon em defesa da revolução russa, em defesa incondicional da União Soviética contra a fração pequeno-burguesa do SWP, liderada por Max Schachtman, que defendia que, na URSS, o que havia era capitalismo de Estado, abdicando da defesa da Revolução russa, por fazer um sinal de igual, equivocadamente, entre a burocracia stalinista, que usurpou o poder da classe operária, e a burguesia, que, na época havia sido expropriada e não havia restaurado o capitalismo, como veio a ocorrer em 1991.

Cannon dizia que todos que abandonavam a defesa da Revolução russa davam problema para a construção do partido operário marxista revolucionário.  Cannon dizia também que os trotskistas tinham fama de sérios, de principistas na questão programática no movimento operário norte-americano: “O trotskismo é um assunto demasiado sério; os trotskistas levam tudo muito a sério.”  (pág. 204).

Além disso Cannon falava que "há um lema entre os trotskistas que diz o seguinte: em tempos de crise, não se faz o que é possível, e sim o que é necessário." (pág. 112).

Cannon conta que:

“Trotsky escreveu em um artigo: “Tenacidade! Tenacidade! Tenacidade!”  Essa foi sua resposta à onda de desânimo que se seguiu à capitulação de Radek e outros. Aguentar e continuar lutando, isto é que os revolucionários devem aprender, não importa quão pequenos sejam seus efetivos, não importa o quão isolados estejam. É preciso aguentar e continuar lutando até que a oportunidade surja, e então tirar proveito de qualquer abertura. Nós resistimos até 1933, e então começamos a ver a luz do dia. A partir de então, os trotskistas começaram a surgir no mapa político deste país.” (pág. 105).

Assim, os trotskistas protagonizaram a greve do carvão; a greve das fiações de algodão dos operários têxteis, em 1º de setembro de 1934;  a greve geral em Minneapolis, liderados pelos caminhoneiros da Sede  574, do Sindicato dos Caminhoneiros de Minneapolis, no Estado de Minnesota (Minneapolis Teamsters Union), também em 1934 e a gigantesca mobilização de toda a cidade no Funeral de Henry Ness, caminhoneiro morto pela polícia durante a greve; a greve hoteleira em Nova Iorque; as mobilizações em Chicago; as lutas em Los Angeles, no Estado da Califórnia; a luta denunciando os chamados “Processos de Moscou”, no qual Stalin executou toda a velha guarda bolchevique e o apoio à Comissão Dewey que investigou as acusações dos stalinistas  contra Trotsky, absolvendo-o  e julgando-o inocente; e construíram o Socialist Workers Party (SWP) e a IV Internacional.

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