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A conta que nunca é feita

Em defesa de Leda Paulani

*Artigo do companheiro Paul Balard da Silva da tendência quarta-internacionalista, Socialismo Revolucionário

A Folha de S. Paulo, no dia 5 de junho, publicou dois artigos na coluna “Opinião Política Econômica”.  Um de Alexandre Schwartsman, 52, doutor em economia pela Universidade da Califórnia, Berkeley e ex-diretor do Banco Central do Brasil, professor do Insper, entitulado “É pesadelo sonhar que alta de juros não é indispensável agora”, com subtítulo Evidência empírica e experiência de gestão mostram que política monetária é eficiente para atingir a meta”. O outro de Leda Paulani, 60,  professora titular do Departamento de Economia da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo – FEA-USP, entitulado “Alta dos juros atende só ao mercado e sacrifica a população”, com o subtítulo “No paraíso das finanças existente no Brasil há uma conta que se faz e outra que nunca é feita”.

O “Chicago boy” (apesar da idade), Alexandre Schawartsman, embora tenha estudado em Berkeley, foi desrespeitoso com a Professora Leda Paulani, iniciando com expressões do tipo “Que Leda Paulani enfrenta dificuldade com matemática e números é notório; já seus problemas com interpretação de texto são uma triste surpresa.”

O garoto de recado do imperialismo yankee é simplesmente ridículo na sua “missão de querer enganar trouxa”.  Só que não pega.

Ele se disse “chocado que sua única resposta à rápida elevação dessa relação seja apontar o dedo para o que ocorreu em 1997 e 2002 e dizer que a dívida cresceu ainda mais rapidamente.” Todavia, a Professora Leda tem razão. Ela refere-se aos anos do governo Fernando Henrique Cardoso, do PSDB. Lembram-se? Aí o ridículo vem com estorinha de criança.

Outra crítica furada de Alexandre é que “Na escala do espanto, porém, a campeã é a expressão: “Não venham me dizer (...) que a taxa de juros estratosférica [outro adjetivo!] é necessária para conter a inflação”. A professora Leda Paulani mais um vez tem razão.  A taxa de juros é mesmo estratosférica! Só não sente o mauricinho em questão a soldo do imperialismo. Não tem como escapar.

No artigo da Professora Leda Paulani, inicialmente destacamos a observação sobre a defesa que o imperialismo e seus serviçais fazem da autonomia do Banco Central:

“Na visão dos ortodoxos de plantão, a credibilidade é bem de primeira necessidade. O produto, claro, vem embalado com o rótulo de autonomia do Banco central, de preferência em mandato descontinuado com o do mandatário eleito pelo povo.”

Essa crítica é importante, porque não só no Banco Central assistimos à usurpação das instituições públicas usurpadas por indivíduos que não forma eleitos pelo povo. Isso também acontece na Polícia Federal, no Judiciário,  organismos e entes “públicos” que não são controlados pelo povo, a serviço dos interesses da burguesia e do imperialismo.  Assim, hoje assistimos à condenação de companheiros sem prova, com base na nazi-fascista “Teoria” do Domínio do Fato pelo Supremo Tribunal Federal, o mesmo que entregou Olga Benário aos nazistas. Às ações midiáticas do Judiciário Federal e da Polícia Federal, em total desrespeito aos mínimos direitos civis e democráticos, à presunção de inocência. À criminalização dos movimentos sociais. À prisão de lutadores dos movimentos sociais, com a aplicação da Lei de Segurança Nacional da época da ditadura militar, por governos de traços nazi-fascistas nos estados.

Prosseguindo a Professora Leda esclarece:

“LEVY SEM AMARRAS              

Noutras palavras, imaginemos em Levy sem amarras políticas, livre para cortar a gosto os gastos públicos, pouco importando o aprofundamento do círculo vicioso já em curso – ajuste fiscal – queda do produto – queda da arrecadação – piora no resultado primário – mais ajuste -, e, junto com esse Levy, um presidente do BC igualmente livre para subir a gosto a Selic.

Essa desconexão total, absoluta, entre política e economia não seria o paraíso das finanças, o paraíso fiscal? No paraíso das finanças existente no Brasil (onde ainda serão expulsos todos os heterodoxos!), há uma conta que se faz e outra que nunca é feita.

A que se faz: a cada aumento de 10% no salário mínimo, os gastos do governo sobem cerca de R$ 25 bilhões (afinal, no dizer de nossos ciosos técnicos, qualquer um que estuda as contas públicas sabe que é insustentável a política de aumento persistente do salário mínimo acima da inflação).”
Agora transcrevemos o ponto alto do artigo da Professora Leda Paulani, com sua fina ironia, onde o bicho pega:

“A CONTA NUNCA FEITA

A conta que nunca é feita: a cada aumento de mero 1% na taxa Selic, os gastos do governo sobem cerca de R$ 14 bilhões.

O primeiro aumento é puro despautério, o segundo necessidade incontornável.  (Ironiza a Prefessora Leda Paulani. Nota de IR)

Tudo se passa como se o dinheiro que paga o aumento do mínimo estourasse as contas públicas, enquanto o outro, o que paga os rendimentos da riqueza financeira, não causasse, milagrosamente, mal algum (antes o contrário, pois ainda reduz a inflação, certo?).

Os felizes cidadãos do paraíso das finanças (alguns poucos milhares) dispõem desse dinheiro bendito, enquanto milhões de viventes restantes só possuem a seu alcance o dinheiro que faz sangrar.

É forçoso concluir que o “publico” para o qual são tão necessárias tais credibilidade e responsabilidade é bem reduzido: resume-se aos agentes do mercado financeiro. Os zelosos técnicos devem zelar por eles pela produção do dinheiro milagroso.

O que aparece como exigência técnica atende interesses bem definidos.

Ocultar a economia atrás da técnica, ignorar que economia é política, por implicar escolhas, é pressuposto essencial do discurso que tem feito triunfar no Brasil há mais de duas décadas o paraíso das finanças, em detrimento do país que abriga os milhões de viventes restantes.”

Por esse último parágrafo, parece que é inverídica a afirmação de Alexandre Schwartsman de que Leda Paulani faz a “defesa da política econômica vigente até 2014”.

A política econômica vigente até 2014 deve ser combatida, porque na verdade tal política assistencialista (Bolsa Família, FIES – Fundo de Financiamento Estudantil, PRONATEC – Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego, Minha Casa Minha Vida, etc.) embora seja importante para a população empobrecida, é bastante limitada em termos econômicos para a classe trabalhadora. Tal política, como o próprio Lula disse, beneficiou como nunca os banqueiros e os empresários (isenção do IPI – Imposto sobre Produtos Industrializados, para a indústria automobilística – montadoras estrangeiras, e linha branca, indústria paulista), os quais, agora como “gratidão”, juntamente com o imperialismo, colocaram em marcha um golpe para derrubar a presidente Dilma (via “impeachmant” ou golpe militar).

Recentemente, em um artigo o colunista da Folha Ricardo Melo deixou  claro que:

\“Como sempre, a conta é espetada no lombo dos trabalhadores.

Coincidência ou não, na época somos informados dos resultados dos principais bancos do país. O Itaú Unibanco registrou lucro líquido de R$ 5,733 bilhões no primeiro trimestre deste ano. O ganho é recorde para o período levando em conta o resultado dos bancos brasileiros, segundo a consultoria Economática. Um pouco ante, o Bradesco anunciou ter fechado o primeiro trimestre de 2015 com lucro líquido de R$ 4,244 bilhões, 6,3% acima do resultado do quarto trimestre de 2014 e 23,3% maior que o mesmo período do ano passado.

Os trabalhadores penam, a indústria resmunga, o comércio reclama. Já o capital financeiro comemora. Será que é tão difícil saber de onde tirar?  (“Onde mora o perigo”, Ricardo Melo, Folha de S. Paulo (12/5/2015)”

Hoje, com muita mais razão deve ser combatida a política pró-imperialista do Ministro Levy. Tal política visa apenas reverter a queda da taxa de lucro dos bancos e das empresas, ou seja, visa dar um novo fôlego ao capitalismo num momento de crise profunda, em que este está a beira de um colapso, vivendo uma Nova Guerra Fria entre os Estados Unidos e União Europeia contra o Bloco Eurásico, Rússia e China, ex-estados operários que ainda não são imperialistas, estando à beira da III Guerra Mundial, como comprovam as escaramuças dos EUA e a China no mar do Sul da China, dos Estados Unidos com a Rússia, relativamente à Ucrânia, República de Donbass, República de  Donetz e República de Luganski, e com relação à Fifa (Federação Internacional de Futebol), ao boicote americano à Copa de 2018 na Rússia, tendo em vista que o imperialismo yankee está correndo atrás dos prejuízos de suas empresas (ou do que estas deixaram de ganhar), como Coca-cola, Nike, Mac Donalds, etc., utilizando-se da extorsão como fizeram com o brasileiro, J. Hawilla, dono da Traficc, empresa brasileira de markting esportivo, que foi extorquido em US$ 158 milhões, ou seja, em aproximadamente R$ 473 milhões, com base na nazi-fascista delação premiada (nunca custa lembrar que no nazismo era utilizado esse expediente com os filhos sendo incentivados a denunciarem os pais). O Bloco eurásico, quando entrar em conflito com o imperialismo americano e europeu, deve ser apoiado pelos marxistas revolucionários, porque o imperialismo representa a última etapa do capitalismo, a época de decadência, de reação em toda linha, época de guerras e revoluções.

Assim,  cabe ao militantes do Partido dos Trabalhadores combaterem o “ajuste fiscal” do ministro Levy, a terceirização, as MPs 664 e 665 que atacam o seguro-desemprego e as aposentadorias, a direita, o golpismo, o fascismo e o macartismo, defendendo as reivindicações transitórias de estabilidade no emprego; formação de comissão de fábricas; formação de comitês de greve e ocupação das fábricas que demitirem;  escala móvel de salários de acordo com a inflação; redução da jornada de trabalho, sem redução de salários; formação de comitês  de autodefesa nos  bairros operários e populares; e levantando o programa histórico para a revolução brasileira,  a resolução das tarefas democráticas, como reforma e revolução agrária, a expropriação da terra e dos latifúndios; a independência nacional, com a expulsão do imperialismo; a expropriação dos meios de produção (fábricas, bancos, terra, latifúndios), monopólio do comércio exterior, economia planificada, para que sejam liberadas as forças produtivas, rumo ao socialismo, liderado pela classe operária e a maioria oprimida nacional, visando a instauração de um governo operário e dos trabalhadores. 

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