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A questão do Partido II: Trotsky e Gramsci

O movimento pela formação de uma tendência socialista operária revolucionária do PT prosseguindo a polêmica sobre a questão do partido, tendo em vista as posições desses dois grandes revolucionários, Leon Trotsky de nacionalidade russa-ucraniana-judia e Antônio Gramsci de nacionalidade italiana, iniciada em razão do artigo do muito interessante do Professor Gílber Martins Duarte de Uberlândia, intitulado “Conjuntura nacional: a batalha encarniçada da reprodução/transformação das relações de produção!”, que motivou a ressalva da TSO  discordando da crítica ao entendimento do revolucionário russo  Leon Trotski de que “A crise histórica da humanidade reduz-se à crise da direção revolucionária.”, crítica essa também feita por gramscianos que dizem que a interpretação trotskista é reducionista porque a crise histórica envolve questões mais abrangentes, ou seja, políticas, econômicas e sociais.  Naquela opornidade a TSO contestou a posição gramsciana, considerando-a idealista e menchevique, porque no fundo ela reflete a resistência à construção do partido operário marxista revolucionário, centralizado e democrático.  No início do Programa de Transição, Trotsky faz uma análise concreta da situação concreta, ou seja, uma análise materialista dialética a respeito d“As condições objetivas necessárias para a revolução socialista.” Sempre visando maior clareza entendemos necessário transcrever, mais uma vez, o último parágrafo do  preâmbulo em questão:

“Todo falatório, segundo o qual, as condições históricas não estariam “maduras” para o socialismo, são apenas produto da ignorância ou de um engano consciente. As premissas objetivas necessárias para a revolução proletária não estão somente maduras: elas começam a apodrecer. Sem a vitória da revolução socialista no próximo período, toda a humanidade está ameaçada de ser conduzida a uma catástrofe. Tudo depende agora do proletariado, ou seja, antes de mais nada, de sua vanguarda revolucionária. A crise histórica da humanidade reduz-se à crise da direção revolucionária.”

O prosseguimento da polêmica deve-se à sugestão do Professor Gílber de que fizéssemos uma discussão mais aprofundada. Todavia, vamos por parte, pois a matéria em questão é riquíssima. Assim, na medida em que vamos estudando, também vamos elaborando.

O Professor José de Lima Soares, em livro “O PT e a CUT nos anos 90”, com o subtítulo “Encontros e desencontros de duas trajetórias”, Fortium Editora, 2005, pág. 255, assim se pronunciou sobre a questão:

“Ao longo deste trabalho, procuramos situar e apreender os elementos constitutivos da crise porque passam o PT e a CUT enquanto organizações de massa dos trabalhadores. Os problemas enfrentados tanto pelo PT como pela CUT não são apenas conjunturais; a raiz desses problemas está ligada diretamente à questão estrutural de toda a esquerda mundial, que se encontra em crise e não consegue dar resposta à ofensividade do capital; nesse sentido, não é só uma crise de direção (na acepção de Trotsky), mas, sobretudo, político-ideológica e cultural. Gramsci costumava lembrar que, do ponto de vista das classes trabalhadoras, a Revolução Russa seria o último grande acontecimento do século XX.”

Observe-se que a expressão de Trotsky é que “A crise histórica da humanidade reduz-se à crise da direção revolucionária.”, todavia isso não quer dizer que estejam excluídos as demais questões apontadas pelos gramscianos, como a questão política, ideológica e cultural, e mesmo os outras importantíssimas como econômicas e filosóficas, que juntamente com o socialismo, as chamadas três fontes, deram origem ao marxismo. Significa, assim,  que a crise de direção revolucionária é a principal questão da humanidade na nossa época.

Hoje vamos trabalhar com um exemplo histórico. Após a Revolução de Fevereiro de 1917 na Rússia, o Partido Bolchevique viveu uma crise de direção, porque “A marcha real da Revolução de Fevereiro ultrapassou o esquema habitual do bolchevismo.” (Leon Trotsky, “ A História da Revolução Russa, 1º  vol. “A Queda do Tzarismo”,  pág. 271, Editora Paz e Terra, 3ª Edição, 1978), referindo-se a fórmula algébrica de Lênin de “ditadura democrática do proletariado e dos camponeses.”  “É verdade que a Revolução tinha sido levada a termo por meio de uma aliança dos operários com os camponeses. O fato de os camponeses agirem principalmente sob a farda dos saldados não alterava, em absoluto, a questão.” (Idem, pág. 271) A fórmula algébrica do Partido Bolchevique não dava resposta para o prosseguimento da política revolucionária. O partido vivia um impasse, uma crise de direção.

Com a chegada de Lênin, no dia 3 de abril de 1917, ele apresentou as suas famosas “Teses de Abril”, as quais faziam uma análise concreta da situação concreta (“O Proletariado consciente só pode dar seu consentimento a uma guerra revolucionária, que justifique verdadeiramente o defensismo revolucionário, sob estas condições: a) passagem do poder ao proletariado e dos setores mais pobres do campesinato a ele aliados; b) renúncia de fato, e não só de palavra, a qualquer tipo de anexação; c) ruptura de fato com todos os interesses do capital.”), aperfeiçoando a linha programática do Partido Bolchevique, sendo que “A luta pelo rearmamento dos quadros bolchevique, iniciada na tarde de 3 de abril, terminou, pràticamente, no fim do mês. A conferência do Partido, realizada em Petrogrado de 24 a 29 de abril, tirava conclusões de março, mês de tergiversações oportunistas, e de abril, mês de crise aguda. O Partido, naquela época, crescera consideràvelmente, tanto em quantidade como em valor político. Os 149 delegados representavam 79 mil membros do Partido, dos quais 15.000 de Petrogrado. Para um partido ainda ontem ilegal e hoje antipatriota, era um número imponente, e Lenine menciona-o repetidamente com satisfação.(...)” (Idem, pág. 280). Com isso, resolveu-se o impasse do Partido Bolchevique e a crise de direção revolucionária que ele viveu. 

G. Plekânov, ensinou que: (...).  A modificação mais ou menos lenta das “condições econômicas” coloca perìodicamente a sociedade ante a inelutabilidade de reformar com maior ou menor rapidez suas instituições. Esta reforma jamais se produz “espontâneamente”.  Ela exige sempre a intervenção dos homens, diante dos quais surgem, assim, grande problemas sociais. E são chamados de grandes homens precisamente aquêles que, mais que ninguém, contribuem para a solução destes problemas.(...).” ("A concepção materialista da História", Editora Paz e Terra, 1974, 4a. Edição, pág. 111).

Segue a conclusão de Trotsky sobre essa crise de direção revolucionária que viveu, após a Revolução Russa de Fevereiro de 1917, o maior partido operário marxista revolucionário da História, o Partido Bolchevique:

“Da importância excepcional que teve a chegada de Lenine, deduz-se apenas que os líderes não se criam por acaso, que a seleção e a educação deles exigem dezenas de anos, que não se pode suplantá-los arbitràriamente; que, excluindo-os automàticamente da luta, causamos ao Partido uma ferida profunda e que, em certos casos, podemos até paralisá-lo por longo tempo.”

O exemplo que demos refere-se a um caso de crise de direção revolucionária vivido por uma seção da Internacional, representada na época pela esquerda de Zimmerwald, mas logicamente serve para a questão da crise de direção revolucionária da própria Internacional Operária hoje em dia.

Professor Gílber, era o que tínhamos para hoje.

Erwin Wolf

(Nota: nas transcrições observamos a acentuação da época - E.W.)

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